OM AH HUNG VAJRA GURU PADMA SIDDHI HUNG
(em tibetano lê-se: Om Ah Hung Benzer Guru Pema Siddhi Hung)
OM AH HUNG: o corpo, a palavra e o espírito despertos
VAJRA GURU: o Mestre Adamantino
PADMA: o lótus, símbolo de pureza
SIDDHI: as realizações
HUNG: é a sílaba do coração - receber, reunir, perfazer
«Em resumo, o mantra significa: “Possamos nós receber a transmissão completa das bênçãos do corpo, da palavra e do espírito do Mestre de Diamante! ”
Recitar este mantra abre o coração às dificuldades de outrém, tornando-o assim uma fonte de cura tanto para nós como para os demais. Como nos permite invocar os seres despertos e em particular Guru Rinpoche, cada uma das suas doze sílabas tem o poder de apaziguar as doenças e os obstáculos. O seu conjunto sagrado previne as perturbações dos elementos (fogo, água, vento, terra e espaço) e ao gravá-lo sobre os rochedos podemos proteger toda uma região. É aliás por essa razão que os rochedos das alturas tibetanas são tão frequentemente ornados deste mantra. Impresso sobre papel ou tecido, quando posto a flutuar ao vento, tem a virtude de expandir a sua mensagem de paz e os seus benefícios sobre todos os seres. Uma vez consagrado, pintado ou escrito, este mantra tem o poder de libertar e de curar os que o vêem; cantado, apazigua e liberta os que o ouvem.
Os mestres que, à força de o recitarem milhões e milhões de vezes, actualizaram o poder deste mantra, são capazes, soprando sobre a água e através de um processo de ordem alquímica, de transferir para essa água o poder de curar certas doenças ditas incuráveis. Os mestres deste mantra têm o poder de suprimir os eventuais efeitos tóxicos dos alimentos, regenerando-os. Podemos igualmente colocar o mantra em lugares marcados por abundantes acontecimentos tristes. O mantra de Guru Rinpoche é nomeadamente muito benéfico às famílias afligidas por um suicídio, dado que semelhante evento cria uma energia negativa que, por vezes, se não for neutralizada, acaba por se descarregar sobre outro membro da família. Sob forma escrita ou recitada, o mantra em doze sílabas de Padmasambhava dissipa essa energia, bem como em geral todos os obstáculos decorrentes. Tem ainda a virtude de prevenir as epidemias e as doenças contagiosas.
Nos dias que correm, os sábios tibetanos que detêm a tradição ainda possuem capacidades pouco comuns, que lhes permitem ajudar os seres a muitos e variados níveis. (...) É um mantra que age em planos muito subtis, dando acesso a coisas espantosas; até há pouco a sua prática permitiu a certos astrólogos-médicos tibetanos o desenvolvimento considerável das suas faculdades.»
(aconselha-se a leitura do livro “Diamantes de Sabedoria”, de Pema Wangyal Rinpoche; a explicação mais detalhada sobre este mantra encontra-se da pág. 117 à pág. 130, de onde este trecho foi retirado).
Om mani padme hum é possivelmente o mantra mais famoso do Budismo; o mantra de seis sílabas do bodhisattva da compaixão: Avalokiteshvara.
De origem indiana, de lá foi para o Tibete. É o mantra mais entoado pelo budistas tibetanos.
Om Mani Padme Hum.
Om-fecha a porta para o sofrimento de renascer no reino dos deuses. O sofrimento do reino dos deuses surge da previsão da própria queda do reino dos deuses [isto é, de morrerem e renascerem em reinos inferiores]. Este sofrimento vem do orgulho.
Ma-fecha a porta para o sofrimento de renascer no reino dos deuses guerreiros (sânsc. asuras). O sofrimento dos asuras é a briga constante. Este sofrimento vem da inveja.
Ni-fecha a porta para o sofrimento de renascer no reino humano. O sofrimento dos humanos é o nascimento, a doença, a velhice e a morte. Este sofrimento vem do desejo.
Pad-fecha a porta para o sofrimento de renascer no reino animal. O sofrimento dos animais é o da estupidez, da rapina de um sobre o outro, de ser morto pelos homens para obterem carne, peles etc., e de ser morto pelas feras por dever. Este sofrimento vem da ignorância.
Me-fecha a porta para o sofrimento de renascer no reino dos fantasmas famintos (sânsc. pretas). O sofrimento dos fantasmas famintos é o da fome e o da sede. Este sofrimento vem da ganância.
Hum-fecha a porta para o sofrimento de renascer no reino do inferno. O sofrimento dos infernos é o calor e o frio. Este sofrimento vem da raiva ou ódio.
OM MANI PADME HUM
Tradução: Recebemos a Jóia da consciência no coração do Lótus. (O Lótus é o chakra).
Significa - Recebemos a jóia da consciência divina, no centro do nosso chakra da coroa.
Avalokitesvara alcançou tão elevado grau de espiritualidade, como se tivesse subido a mais alta montanha. Destas alturas, estava para partir à planos ainda mais elevados, e distantes da terra, quando ouviu um gemido que vinha do inconsciente coletivo da humanidade.
O lamento por sua partida. Seu coração encheu-se de compaixão e Avalokitesvara prometeu ficar neste planeta trabalhando e servindo para evolução da humanidade.
Este juramento bodhisatva, é feito por todos os Mestres que servem a Luz da Grande Fraternidade Branca. Eles deixam de seguir as sua evolução em planos superiores, para servir a Luz de seus irmãos ainda encarnados.
Ao recitarmos o Mani Mantra, estamos penetrando a mesma roda metafísica que os Mestres Ascensos e não Ascensos da Grande Fraternidade Branca que estão constantemente empurrando - a Roda da Evolução Espiritual da humanidade.
Este mantra tem sua origem na Índia e de lá foi para o Tibet. Os tibetanos não conseguiram entoá-lo da mesma forma, mudando sua pronuncia para: OM MANI PEME HUNG este é o mantra mais utilizado pelos budistas tibetanos.
Qualquer pessoa pode entoá-lo. Estando feliz ou triste, ao entoar o "Mani Mantra", uma espontânea devoção surgirá em nossa mente e o grande caminho será fortemente realizado.
O mantra OM MANI PADME HUM, é fácil de pronunciar e poderoso pois contém a essência de todo o ensinamento.
Muito tem sido escrito sobre este mantra e é impressionante que apenas seis silabas possam atrair tanto comentário importante.
De acordo com Dalai Lama, o propósito de recitar este mantra é transformar o corpo impuro de suas palavras e mente, no puro e louvado corpo, palavra e mente de um Buda.
O som de cada silaba é visto como tendo uma forma paralela espiritual.
Fazer o som de cada silaba portanto, é alinhar a si mesmo com aquela qualidade espiritual particular e para se identificar com isto.
Existe também um grande numero de outros beneficio que resultam da repetição deste mantra, incluindo a produção do mérito e destruição do carma negativo.
OM - A primeira silaba, recitá-la o abençoa para atingir a perfeição na pratica da generosidade.
MA - Ajuda a aperfeiçoar a pratica da ética pura.
NI - Ajuda a atingir a perfeição na pratica da tolerância e paciência.
PAD - Ajuda a conquistar a perfeição na pratica da perseverança.
ME - Ajuda a conquistar a perfeição na pratica da concentração.
HUM - Ajuda na conquista da perfeição na pratica da sabedoria.
A senda das seis perfeições é a senda de todos os budas. Cada uma das seis silabas elimina um dos venenos da consciência humana.
OM - Dissolve o orgulho
MA - Liberta do ciúme e da luxuria.
NI - Consome a paixão e os desejos
PAD - Elimina a estupidez e danos.
ME - Liberta da pobreza e possessividade.
HUM - Consome a agressão e o ódio.
Os mantras são freqüentemente, os nomes dos budas, bodhisattvas ou mestres e que o compuseram. Os mantras são investidos com um infalível poder de ação, de forma que a repetição do nome da deidade, transmite as qualidades de sua mente. O nome é idêntico a deidade ou essência da deidade que o compôs e com ele presenteia a humanidade dando a seus irmãos a essência de tudo aquilo que ele atingiu em muitas vidas de esforço e sagrado oficio. Dando o glorioso resultado de seu momentum de sabedoria.
Ao recitar este mantra, o meditante também pode conseguir as qualidades do Chenrezig, o bodhisatva da compaixão, conhecido na tradição Mahayana como Avalokitesvara.
O mantra OM MANI PADME HUM, chamado de mani mantra, levanta algumas traduções misteriosas. Diz a tradição que este mantra significa o nome Chenrezig. Contudo, Chenrezig não tem nome, mas ele é designado por nomes. Estes nomes são a taça para a compaixão a benção e a força que ele derrama. Portanto este é apenas um dos nomes de Chenrezig, MANI PADME, colocado entre as duas silabas sagradas OM e HUM.
Parece-nos que Chenrezig, Avalokitesvara e Kuan Yin são os nomes do mesmo buda da compaixão.
OM - Representa o corpo de todos os budas, também o começo de todos os mantras.
MANI - Jóia em sânscrito
PADME - Lótus ou chakra
HUM - A mente de todos os budas e freqüentemente finalizam os mantras.
MANI - Refere-se a Jóia que Chenrezig segura no centro de suas duas mãos.
PADME - Refere-se ao lótus que ele segura na sua segunda mão esquerda.
Dizendo MANI PADME estamos nominando Chenrezig através de seus atributos: "Aquele que segura a Jóia e o Lótus". Chenrezig ou Jóia do Lótus são dois nomes para a mesma deidade.
Quando recitamos este mantra, estamos na verdade repetindo o nome de Chenrezig. Este mantra é investido com a benção e o poder da mente de Chenrezig, sendo que ele mesmo reúne a benção e a compaixão de todos os budas e bodhisattvas. Desta forma o mantra é imbuído com a capacidade de purificar nossa mente de sua obscuridade. O mantra abre a mente para o amor e compaixão e a conduz ao despertar.
Sendo a deidade e o mantra um em essência, significa que é possível recitar o mantra sem necessariamente trabalhar a visualização. A recitação permanece efetiva.
Cada uma das seis silabas sagradas retêm um efeito purificador genuíno.
OM - Purifica o corpo
MA - Purifica a palavra
NI - Purifica a mente
PAD - Purifica as emoções
ME - Purifica as condições latentes
HUM - Purifica o véu que encobre o conhecimento
Cada silaba é ela mesma uma oração
OM - É oração dirigida ao corpo dos budas
MA - É oração dirigida à palavra dos budas
NI - É oração dirigida à mente dos budas
PAD - É oração dirigida às qualidades dos budas
ME - É oração dirigida à atividades dos budas
HUM - Reúne a graça (benção) do corpo, palavra, mente, qualidade e atividade dos budas.
Estas seis silabas correspondem à transcendental perfeição dos budas secretos.
OM - Ratnasambhava, Buda que nos inunda com sua sabedoria de igualdade e nos liberta do orgulho espiritual, intelectual e humano
MA - Amogasidhi, Buda que nos inunda com sua sabedoria que a tudo realiza, a sabedoria da ação perfeita e liberta-nos do veneno da inveja e do ciúme.
NI - Vajrasattva, Buda nos inunda com a sabedoria da vontade diamantina de Deus. Consome em nós o veneno do medo, da duvida e da descrença em Deus, o único Guru.
PAD - Vairochana, Buda que nos inunda com a sabedoria penetrante do dharmakaya, a poderosa Presença Eu Sou. Consumindo em nós o veneno da ignorância.
ME - Amithaba, Buda que nos inunda com a sabedoria da discriminação e consome em nós os venenos das paixões : Todos os desejos intensos, cobiça, avareza e luxuria.
HUM - Akshobhya, Buda que nos inunda com a sabedoria que se reflete como num espelho e consome em nós os venenos de raiva, ódio e criações de ódio.
As seis silabas sagradas OM MANI PADME HUM são a essência das cinco famílias de budas secretos. São a fonte para todas as qualidades e profunda alegria. É a senda que conduz a uma elevada existência para a liberdade da alma.
OM MANI PADME HUM HRIH
A PRONÚNCIA
OM MÃNI PADME RUM RRIIII
O SIGNIFICADO
Recebemos a jóia da consciência divina, no centro do nosso chakra da coroa., que nos traz a sabedoria discriminativa, o discernimento. (O Lótus é o chakra da coroa). HRIH! (Hrih é o bija, ou sílaba “semente”, do Buda Amitabha.)
E por último, como define SS. Dalai Lama o mantra "OM MANI PADME HUM"
"É muito bom recitar o mantra Om Mani Padme Hum, mas enquanto você está fazendo isso, você deve estar pensando em seu significado, para o significado das seis sílabas é grande e vasto ... O primeiro, Om [.. .] simboliza o corpo impuras do praticante, fala e mente, mas também simboliza o corpo puro exaltado, fala e mente de um Buda [...]"
"O caminho é indicado pelas próximas quatro sílabas. Mani, que significa jóia, simboliza os fatores do método: (a) intenção altruísta de se tornar iluminado, compaixão e amor .[...]"
"As duas sílabas, PADME, significa lotus, simbolizam sabedoria [...]"
"Pureza deve ser conquistada por uma unidade indivisível de método e sabedoria, simbolizada pela sílaba final HUM, que indica indivisibilidade [...]"
"Assim, as seis sílabas, Om Mani Padme Hum, quer dizer que na dependência da prática de um caminho que é uma união indivisível de método e sabedoria, você pode transformar seu corpo impuro, fala e mente para o corpo puro exaltado, fala e da mente de um Buda [...]"
- HH Tenzin Gyatso, 14 º Dalai Lama, "Om Mani Padme Hum"
Capítulo 1: Elogio à Mente da Iluminação
Homenagem aos sugatas dotados do dharmakaya. Homenagem aos seus filhos e a todos os que são veneráveis.
Eis aqui, brevemente exposta e segundo a tradição, a prática espiritual dos filhos dos Buddhas. Tudo o que vou dizer já foi dito antes de mim, que sou fraco escritor. Sem pretensão de ajudar quem quer que seja, é com o intuito de ordenar a minha mente que vou escrever esta obra. Que ela ao menos sirva para aumentar o caudal da minha fé que favorece o que é bom. E se além, disso alguém, parecido comigo, pousar aqui o seu olhar, também lhe será oferecido bom proveito.
As condições favoráveis são muito difíceis de conseguir, elas que, uma vez encontradas, satisfazem todos os fins do homem. Se desde já não tirarmos proveito desta oportunidade, como ela poderá surgir de novo? Assim como numa noite em que as nuvens adensam ainda mais as trevas, o relâmpago pode às vezes brilhar; também às vezes, pelo poder dos Buddhas, o pensamento dos homens pousa um breve instante sobre o bem. Deste modo, o bem é sempre frágil, e o poder do mal é tão forte e terrível. Se não fosse a mente da iluminação, que outro bem o poderia vencer?
Durante muitos aéons, os Buddhas meditaram, até que, por fim, viram as benfazenças deste bem, que fazem transbordar de alegria o imenso rio dos seres vivos, numa inundação de felicidade. Quem queira passar além das imensas dificuldades desta vida, afastar todas as dores dos seres e desfrutar centenas e centenas de alegrias, que jamais abandone a mente da iluminação.
Qualquer infeliz, acorrentado à prisão das existências, é nesse mesmo instante proclamado filho dos Buddhas, venerável aos olhos dos deuses e dos homens, assim que nele surge a mente da iluminação. Pegando neste corpo impuro, faz dele a inestimável imagem de outro que é um Buddha. Por isso, guardem com fervor este elixir alquímico que se chama mente da iluminação. Ela foi vista e reconhecida de valor supremo pela vasta inteligência dos guias sublimes da caravana humana. Guardem-na firmemente, esta jóia que é a mente da iluminação, ó vocês que desejam romper com o fardo dos seres vivos!
Assim como uma árvore que morre ao dar o seu fruto, todos outros méritos se acabam. Só a mente da iluminação é uma árvore que sempre frutifica e nunca se esgota. Se o mais execrável dos criminosos se apoiar nela, liberta-se nesse mesmo instante, como quem se livra de um grande perigo protegido por um herói. Como pode haver gente inconsciente, que não se refugie na mente da iluminação?
Como o incêndio do fim do mundo, a mente da iluminação consume num ápice os maiores erros; os seus infinitos benefícios foram expostos pelo sábio Maitreya a Sudhana. A mente da iluminação é dupla; ela é, em suma, o voto da iluminação e o partir para a iluminação. Eles têm entre si, segundo os sábios, a mesma diferença que há entre querer fazer uma viagem e colocar-se no caminho.
O voto da iluminação dá imensos frutos neste mundo, mas não é, ao contrário da largada para a iluminação, uma fonte contínua de méritos. Logo que a mente abrace com tenacidade o pensamento de libertar a vastidão ilimitada dos seres, mesmo que às vezes se distraia ou dissipe, o fluxo dos seus méritos continua sempre a aumentar, assim como a infinita vastidão do céu. Isso mesmo explicou o Buddha no Sutra das Questões de Subahu, em proveito dos que apenas têm um ideal inferior.
Se aquele que formula o benemérito projeto de curar o simples mal-estar de uns poucos homens adquire um imenso mérito, muito mais adquirirá quem quer libertar a todos de um sofrimento infinito, e a todos quer dotar de infinitas qualidades! Qual é a mãe ou o pai capaz de um voto tão generoso? Qual o deus, qual o rishi, qual o brâmane? Nunca nenhum deles fez, mesmo sonhando, voto semelhante para si próprio; como o poderia imaginar para os outros?
É extraordinária esta jóia da mente, voltada para o bem. O seu nascimento é totalmente inédito, se tivermos em conta que os outros nem sequer a concebem no seu próprio interesse! Fonte da alegria do mundo, remédio à dor do mundo, diamante espiritual, como medir todo o mérito que a mente da iluminação contém? Um simples voto para o bem do mundo vale mais do que a adoração do Buddha; quanto mais ainda se lhe juntarmos o esforço de propiciar a felicidade integral a todos os seres!
Os homens querem escapar ao sofrimento e mergulham no sofrimento. Desejam a felicidade e destroem imprudentemente a felicidade, como se ela fosse o verdadeiro inimigo! Sedentos de felicidade e torturados de mil maneiras... Quem os saciará com todas as alegrias, quem os arrancará de vez à tortura e acabará com esta loucura? Onde encontrar alguém com tamanha bondade, um tal amigo, um tal mérito?
Se mesmo aquele que presta serviço em pagamento de outro é louvado, o que dizer do bodhisattva, que é generoso sem ser solicitado? Quem oferece uma refeição de caridade a algumas pessoas ganha fama de benfeitor só porque deu, durante alguns instantes e com desdém, um magro petisco que mal dará sustento aos pobres durante meia jornada. O que dizer daquele que dá a um número infinito de seres, e durante um tempo infinito, a satisfação inultrapassável dos sugatas, aquela que sacia todos os desejos?
Qualquer pessoa que, diante deste anfitrião que é o bodhisattva, desenhe maus pensamentos em seu coração, se encontrará nos infernos e aí ficará por tantos aéons quantos o mau pensamento. Assim disse o Buddha. Mas quando o coração de alguém se lhe dirige com devoção, a esse lhe será servido um fruto ainda maior. Confrontado com as piores dificuldades, um bodhisattva jamais se submete ao mal agir, enquanto que todas as suas boas ações se multiplicam sem esforço.
Presto homenagem aos corpos dos bodhisattvas, onde nasceu a jóia deste pensamento sublime. Tomo refúgio nestas minas de felicidade, que mesmo se as ofendamos ainda nos dão a felicidade.
Capítulo 2: A Confissão
Para conquistar esta jóia que é a mente da iluminação, presto homenagem aos Buddhas, à pura jóia do supremo dharma, e aos filhos dos Buddhas, oceanos de mérito espiritual.
Todas as flores e todos os frutos, as ervas medicinais e todos os tesouros do universo, as águas puras e deliciosas, as montanhas feitas de preciosas gemas, as encantadoras solidões dos bosques, as lianas lindíssimas ornadas de flores, as árvores com os ramos vergando sob o peso dos frutos, os perfumes dos mundos divinos e humanos, a árvore dos desejos e as árvores de pedrarias resplandecentes, os lagos espargidos de flores de lótus e suspensos no canto dos cisnes, as plantas silvestres e as de cultivo, e tudo o que é nobre ornamento na imensidão do espaço, tudo isto, que não pertence a ninguém, considero-o no meu espírito e o ofereço aos Buddhas, sublimes entre os seres, e aos seus filhos. Que eles os aceitem, pois são tão dignos das mais belas oferendas! Que os grandes compassivos tenham compaixão de mim!
Não tenho o menor mérito e sou tão pobre que nada mais posso oferecer. Hajam por bem os protetores - sempre pensando no bem dos outros - graças aos seus poderes, receber estas oferendas para o meu bem! Eu mesmo me ofereço para toda a eternidade aos vencedores e aos seus filhos. Admitam-me ao serviço de vocês, ó seres sublimes! É com devoção que me faço o seu servidor. Agora, aceite ao seu serviço, acabou-se o medo. Trabalho para o bem de todos os seres escapou aos danos antigos e não renovo o agir nefasto.
Em termas perfumadas e que encantam os olhos com as suas colunas esplêndidas de jóias, cortinas resplandecentes bordadas de pérolas, e lajes de puro e brilhante cristal, com muitas jarras incrustadas de gemas preciosas, transbordando de água perfumada, ao som de cânticos e de música, preparo o banho dos Buddhas e de seus filhos. Com toalhas sem igual, impregnadas de incensos, impecáveis e imaculadas, seco-lhes o corpo e os visto, enfim, com túnicas sedosas e perfumadas. Com roupas etéreas, delicadas, finíssimas, esplendentes e com profusos ornamentos, adorno Samantabhadra, Ajita, Manjushri, Lokeshvara e os outros bodhisattvas.
Com fragrâncias delicadas, de perfume penetrando até aos confins do universo, ungiram os corpos de todos os Buddhas, resplandecentes com ouro purificado, lustroso e polido. Com todas as flores de perfume inebriante, o jasmim, o lótus azul e a eritrina, com graciosas guirlandas, honram os Buddhas tão veneráveis. Ofereço-lhes nuvens de incenso que alegram o coração com o seu subtil e envolvente perfume. Presto-lhes homenagem com o vasto sortido de alimentos e bebidas celestiais.
Disposto em leitos de lótus de ouro acende archotes de pedrarias preciosas e lanço, ao longo de lajes polidas de perfume, punhados de pétalas de flores encantadas. Ofereço a estes misericordiosos inconcebíveis palácios celestiais decorados de magníficas grinaldas de pérolas e de jóias, ornamentos de um céu sem limite, reverberando melodiosos hinos.
Aos possantes Buddhas, apresento altos pára-sóis com requintadas pedrarias, de cabos em ouro e grácil forma, incrustada de pérolas e de um brilho estonteante. Que se levantem nuvens de cantos e toadas que deleitam o coração, nuvens de oferendas que apaziguam a dor dos seres! Sobre todas as jóias do supremo Dharma, sobre stupas e estátuas, caiam chuvas contínuas de flores, jóias e substâncias preciosas!
Assim como Manjushri e os outros bodhisattvas satisfizeram os vitoriosos com oferendas, também eu faço oferenda aos Buddhas e aos seus filhos. Com hinos lindos, marés de ritmos harmoniosos, exalto os que são oceanos de mérito; que sem cessar estes cânticos de louvor se levantem em revoada para eles!
Prostro-me diante dos Buddhas dos três tempos, do dharma e da suprema sangha, com tantos corpos quantos os átomos que haja em todos os campos de Buddha. Homenagem a todos as stupas e a todos os suportes da mente da iluminação! Homenagem aos mestres espirituais e aos ascetas veneráveis! Tomo refúgio no Buddha até ao coração da iluminação; tomo refúgio no dharma e na vasta assembléia dos bodhisattvas.
Com as mãos juntas, dirijo-me aos bodhisattvas misericordiosos e aos Buddhas que vivem em todas as direções do espaço. Todo o mal que fiz ou causei, embrutecido e estúpido na eternidade das transmigrações ou na vida presente, todo o mal que na minha cegueira aprovei, para minha perdição, confesso-o, consumido de remorsos.
Todas as ofensas que cometi, subjugado pelas emoções, em ultraje às três jóias ou contra o meu pai e a minha mãe, contra os mestres e todos os demais, que por atos, palavras ou pensamentos, todo esse pernicioso agir que cometi, afligido pelos múltiplos vícios, tudo isto confesso, ó condutores do mundo! Como escapar a estas faltas? Apressem-se para me salvar, não vá a morte chegar e eu por redimir! É que a morte não se perde em considerações pelo que está ou não está por fazer. Que ninguém se fie nela, de boa saúde ou doente, a vida pode partir de improviso.
Incontáveis vezes, o prazer e o desagrado foram ocasião de mal agir para mim. Como pude esquecer que um dia teria de abandonar tudo e partir? Os que me incomodam já não estarão aqui, os que me agradaram também não, e até eu já não existirei; aliás, nada subsistirá. O que percebo agora não passará de uma de uma lembrança, assim como as coisas que nos atravessam os sonhos, passageiras, fugazes... Nunca mais as veremos.
Durante a minha permanência neste mundo, muito se foram, uns amigos, outros inimigos, mas o mal que cometi por causa deles continua sempre presente, como uma ameaça que não me larga. Estou de passagem nesta terra, foi isso que não compreendi. Qual mal não cometi por desvario, por afeição ou por ódio... Noite e dia, sem parar, a vida vai escorrendo e nenhum ganho a fará crescer: é tão inevitável morrer! Aqui mesmo, deitado no leito, ainda que rodeado pelos meus, terei de suportar sozinho os sofrimentos da agonia. Quando somos agarrados pelos mensageiros de Yama, o senhor da morte, de que valem parentes e amigos? Só o bem me pode trazer a salvação, mas o bem, esqueci-me de o praticar...
Por apego a esta vida efêmera, por ignorância do perigo, por frivolidade, fiz muito mal, ó protetores! O condenado que arrastam para lhe cortarem um membro está crispado pelo terror, a sede devora-o, a vista foge-lhe e fica transfigurado. O que será de mim quando os terríveis mensageiros de Yama me agarrarem, esgazeado pelo medonho assombro e pelo terrível desespero? Os meus olhos, desorbitados pelo terror, procurarão em todos os cantos uma maneira de me salvar. Quem, por bondade, me virá livrar deste enorme perigo? Vendo o espaço vazio de qualquer socorro, mergulhado numa obscura loucura, ai de mim, que farei nesse lugar tenebroso?
É desde já que apelo aos possantes guardiões do mundo, aos vitoriosos que dissipam todos os medos e que guardam uma constante diligência para a proteção do mundo! Apelo do fundo do coração ao dharma realizado por eles, que destrói os medos da transmigração, e apelo à multidão dos bodhisattvas.
Perdido de medo entrega-me a Samantabhadra, dou-me inteiramente a Manjushri. Ao protetor Avalokiteshvara, cujos atos são todos conduzidos pela compaixão, lanço o meu grito de dor e de medo: protejam a mim, o malfeitor! Ao nobre Akashagarbha e a Kshitigarbha, a todos os protetores compassivos, suplico: guardem-me! E àquele cuja simples aparição aterroriza e põem em fuga nas quatro direções os mensageiros de Yama e os outros opressores, saudação a Vajrapani! Transgredi a palavra de vocês, e agora, estarrecido diante do perigo, tomo refúgio em vocês; apressem-se a escorraçar este perigo!
Se quando receamos uma simples doença passageira, seguimos sem violar a prescrição do mérito, quanto mais quando estamos corroídos pelo desejo e pelas quatrocentas e quatro doenças. Ora, há doenças para as quais o universo inteiro não contém remédio e das quais uma só bastaria para destruir todos os habitantes de Jambudvipa. E eu violo a palavra do médico onisciente que cura todas as dores! Que vergonha, que insensatez!
Se sigo com tanta prudência quando caminho à beira de um precipício, porque sou tão desleixado nesta beira do inferno, se este abismo é fundo de milhares de léguas e se estende na imensidão do tempo? "A morte não chegará hoje!" Que falsa certeza! A hora de deixar tudo se aproxima, inexorável. Quem acalmará o meu terror? Como poderei escapar? Virá o dia em que deixarei de existir! Como o meu coração pode estar tranqüilo? Que fruto me restará de todos os prazeres de outrora, hoje abolidos, nos quais me comprazí, apesar da palavra do mestre? Ao deixar o mundo dos vivos, deixando parentes e amigos, irei só, mas não sei para onde. Que me importam onde estão amigos ou inimigos?
Uma só preocupação me deve ocupar noite e dia: as ações negativas produzem necessariamente a dor; como me livrarei delas? Os atos inconfessáveis que cometi por ignorância ou desatino, atos que são negativos por natureza ou por transgressão dos preceitos, confesso-os todos, com o devido respeito e receio, as mãos juntas e me prostrando sem cessar diante dos protetores. Que os guias conheçam as minhas faltas assim como elas são. Este mal, ó protetores, nunca mais voltarei a cometer.
Capítulo3: Adotar a Mente da Iluminação
Felicito-me pelo bem feito por todos os seres, graças ao qual eles se livram do sofrimento dos lugares de tormento. Que eles sejam felizes! Regozijo-me pelos seres que fazem acumulação de méritos, pois isto é para eles uma causa para a iluminação. Que todos obtenham a libertação definitiva do doloroso ciclo das existências! Rejubilo com a iluminação dos Buddhas e com os níveis de realização de seus filhos, os bodhisattvas. Regozijo-me com os pensamentos virtuosos, vastos e profundos como um mar, desaguando na felicidade dos seres e com os atos que concretizam o bem de todos eles.
Com as mãos juntas, suplico aos Buddhas de todo o universo: acendam a lâmpada do Dharma para todos aqueles que estão perdidos e que caem no abismo da dor. Com as mãos juntas, imploro aos Buddhas desejosos de se extinguir: fiquem ainda entre nós, por ciclos sem fim, para que o mundo não fique mergulhado na cegueira.
Tendo realizado tudo isto, e pela virtude do mérito que assim adquiri, possa eu ser aquele que apazigua a dor de todos os seres. Para os doentes, possa eu ser o remédio, o médico e o enfermeiro, até que se extinga a doença. Possa eu, em revoadas de alimentos em bebidas, atenuar o suplício da fome e da sede, e nos períodos de grande penúria das eras intermediárias, possa eu ser comida que sacia e a bebida que desaltera. Para os pobres, possa eu ser um tesouro inesgotável, resposta sempre pronta para tudo o que lhes falte.
Todos os meus corpos e bens, todo o meu mérito do passado, do presente e do futuro — tudo abandono sem hesitar, para que a finalidade de todos os seres seja atingida. O nirvana é a renúncia a tudo, e a minha mente aspira ao nirvana. Deve-se abandonar tudo, mais vale dá-lo a todos os outros.
Que nunca seja estéril o encontro com alguém. Entrego este corpo ao capricho de todos os seres. Mesmo que o maltratem, ultrajem, castiguem e façam dele um objeto de desprezo e zombaria, que me importa, se lhes dei o meu corpo? Obriguem-no a fazer tudo o que lhes seja agradável, mas que nunca seja ocasião de dano.
Se alguém se irrita contra mim ou me quer bem, que isso sirva para a realização de todos os seus votos. Aqueles que me caluniam e magoam, os que riem de mim e todos os demais — possam eles receber a iluminação! Possa eu ser o protetor dos abandonados, o guia dos que caminham e, para os que aspiram à outra margem, possa eu ser a caravela, o barco ou a ponte. Possa eu ser a ilha dos que buscam uma ilha, o leito de quem queira um leito, o escravo de quem queira um escravo. Possa eu ser a pedra do milagre, a jarra do tesouro inesgotável, a fórmula mágica, a planta que cura, a árvore dos votos, a vaca da abundância.
Já que a terra e os outros elementos servem os múltiplos propósitos dos seres, em número tão vasto como o céu, possa eu também ser, de todas as maneiras, útil aos seres que povoam a vastidão do espaço sem fim, por todo o sempre, até que todos sejam libertos. Assim como os Buddhas precedentes adotaram a mente da iluminação e foram gradualmente praticando-a, farei a mente da iluminação nascer em mim, para o bem do mundo, e me exercitarei em todas as práticas que a preparam, uma a uma.
Tendo deste modo abraçado firmemente a mente da iluminação, o sábio, para favorecer o seu desenvolvimento, deve encorajá-la mais e mais, refletindo assim: "Hoje o meu nascimento chegou à maturidade e recebo pleno proveito da minha qualidade de ser humano. Hoje nasci na família dos Buddhas, hoje sou um filho de Buddha. Agora, resta-me agir em conformidade com um homem que respeita o costume de sua família; que ela não receba de mim uma mácula que altere a sua pureza”.
Como um cego que encontra uma jóia num monte de esterco, em mim surgiu, não sei como, esta mente da iluminação. É um elixir que nasce para abolir a morte do mundo; um tesouro inesgotável que acaba com a miséria do mundo; um remédio incomparável que tira a doença do mundo; uma árvore sob a qual o mundo repousa, cansado de errar pelos caminhos da vida; uma ponte aberta a todos os que chegam, para os conduzir para além dos caminhos dolorosos; uma lua espiritual que refresca do escaldado das paixões do mundo, um imenso sol que dissipa as trevas da ignorância, uma nova e untuosa manteiga, filha da nata bem batida do leito do bom Dharma.
Eis preparado o banquete da alegria para a longa caravana humana, que segue os caminhos da vida, faminta de felicidade. Venham todos se saciar! Hoje, na presença de todos os protetores, convido toda a gente ao estado de Buddha e, até lá, convido à felicidade. Que os deuses, os asuras e os demais se regozijem!
Shantideva (séc. VII-VIII), Bodhicharyavatara.
Quando estou em retiro, pensamentos dos três tempos surgem naturalmente. Mas estes pensamentos não são armazenados em uma conta bancária mental. Eles surgem naturalmente e desaparecem naturalmente. Se isto não fosse verdade, onde poderia haver um banco grande o suficiente para manter todos eles? Agora, o simples fato de que os pensamentos surgem não é um obstáculo se, durante o surgimento e desaparecimento destes pensamentos, você for capaz de focalizar a luminosidade natural dos pensamentos em sim. Porém, quando os pensamentos surgem, se sua mente julgadora agarrá-los, isso pode ser um problema. Mas o simples surgimento e passagem de pensamentos em si não deveriam ser vistos como um problema.
O que você pode fazer quando se encontra julgando os pensamentos? Primeiro, abandone a ideia de que você poderá ter resultados imediato em sua prática e nem mesmo deseje essa realização instantânea. Ela acontece vagarosamente, vagarosamente, passo a passo. Você pode obter realização por esse meio gradual? Não há razão pela qual não seja possível, porque bem agora você tem todas as causas e condições necessárias para realizar a iluminação. Você tem os ensinamento e a prática dos nove yanas, todos os quais são designados a trazer a iluminação nesta mesma vida. Além disso, há muitos exemplos de pessoas que realizaram a liberação no passado. Olhando para a linhagem de mestres do passado, de geração a geração, somos lembrados dos grandes mentores espirituais que realizaram a iluminação. Então por que você não poderia atingir o mesmo resultado? Veja se há quaisquer diferenças reais entre aqueles adeptos do passado e você mesmo.
Se você tem o desejo de colocar os ensinamentos em prática, não há razão pela qual não possa produzir o resultado. Por outro lado, se você não tem esse desejo, então é claro que não haverá resultado. Do mesmo modo, sem prática não poderá haver qualquer resultado também. Não é algo que alguém possa fazer por você, do mesmo modo que eles não podem saciar a sua fome comendo seu jantar por você. se você está muito ocupado para tomar seu remédio, então você não pode ser curado. Talvez você possa patrocinar alguém para praticar o Dharma, o que pode ter bênçãos e mérito, mas não há como esta outra pessoa possa transferir seus realização e amadurecimento espiritual a você.
(Gyatrul Rinpoche. In: Karma Chagme. Naked Awareness: Practical Instructions ot the union of Mahamudra and Dzogchen. Comentários de Gyatrul Rinpoche, traduzido por B. Alan Wallace, editado por Lindy Steele e B. Alan Wallance. Ithaca: Snow Lion, 2000. Pág. 99.)